A loucura não é Milei, é o projeto
- The Left Chapter
- 4 hours ago
- 2 min read

Milei speaking in the US, February, 2025 -- Gage Skidmore from Surprise, AZ, United States of America, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons
By Jorge Coulon
Javier Milei mantém-se no poder graças a um equilíbrio tanto frágil quanto é perverso: a disputa por quem o sucederá. Ele já não é sustentado pela confiança social nem por um horizonte de futuro, mas pelo cálculo de cada fração que procura impedir que o rival herde o trono. A luta pela sucessão é hoje o seu único oxigênio político.
Seu governo fracassou. E fracassou rapidamente. Não por suas provocações na televisão nem pelos desvarios de um ambiente extravagante, mas porque o projeto que tentou impor era, desde sua origem, um delírio econômico e político. O dogma do mercado absoluto, levado ao extremo de dinamitar o próprio Estado, era em si mesmo insustentável para qualquer sociedade complexa.
É necessário sublinhar: os mesmos setores que promoveram essa experiência tentarão se eximir da culpa, culpando Milei por sua “loucura individual”. Apresentarão o fracasso como consequência de seu temperamento errático, ocultando que o que desabou foi a racionalidade do modelo que o sustentava. Bancos, corporações e operadores de mídia já estão trabalhando nesse álibi: transferir a responsabilidade para a psique de um presidente “excêntrico” e não para a demência sistêmica de seu programa.
A cena não é nova na América Latina. Bolsonaro no Brasil, Fujimori no Peru ou mesmo a breve experiência de Castillo mostram um padrão: as elites aceitam personagens disruptivos enquanto servem para aplicar ajustes impossíveis por outros meios. Quando se tornam disfuncionais, são descartados, numa tentativa de sempre salvar o cerne do projeto econômico. Milei faz parte dessa série: um instrumento, antes de um protagonista.
Hoje, o campo de possibilidades em torno de sua saída oscila entre cenários extremos – o manicômio, a prisão, a renúncia forçada. Mas o que realmente está em jogo não é o destino pessoal de Milei, e sim se a sociedade argentina conseguirá impedir que se exima a responsabilidade daqueles que o empurraram para o poder. Não basta se livrar do “louco”: é preciso desmontar o projeto que o tornou necessário.
O problema não é Milei, embora Milei seja muito louco.
O problema é a insanidade do projeto que o levou ao poder.
Jorge Coulon é músico, escritor e gestor cultural. Membro fundador do grupo Inti Illimani. Publicou Al vuelo (1989); La sonrisa de Víctor Jara (2009); Flores de mall (2011) e, recentemente, En las cuerdas del tiempo. Una historia de Inti Illimani (2024).
Este artigo foi elaborado por Globetrotter
Comments